TRADUTOR

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Nota de falecimento




Faleceu, na Igreja dos negligentes e frios na fé, dona "Reunião de Oração", que já estava enferma desde os primeiros séculos da era cristã. Foi proprietária de grandes avivamentos bíblicos e de grande poder e influência no passado.

Os médicos constataram que sua doença foi motivada pela "frieza de coração", devido à falta de circulação do "sangue da fé". Constataram ainda: "dureza de joelhos" - não dobravam mais - "fraqueza de ânimo" e muita falta de boa vontade.

Foi medicada, mas erroneamente, pois lhe deram grande dose de "administração de empresa", mudando-lhe o regime; o xarope de reuniões sociais" sufocou-a; deram-lhe "injeções de competições esportivas", o que provocou má circulação nas amizades, trazendo ainda os males da carne: rivalidades, ciúmes, principalmente entre os jovens.

Administraram-lhe muitos "acampamentos", e comprimidos de "clube de campo".
Até cápsulas de "gincana" lhe deram para tomar! RESULTADO: Morreu Dona "Reunião de Oração"!

A autópsia revelou: falta de alimentação, como "pão da vida", carência de "água viva", e ausência de vida espiritual. Em sua memória, a Igreja dos negligentes, situada na Rua do Mundanismo, número 666, estará fechada nos cultos de 4as e 5as Feiras; aos domingos, haverá Culto ou escola dominical, só pela manhã, assim mesmo quando não houver dias feriados, emendando o lazer de Sexta a Segunda. Vigília, nem pensar.

Agora, uma pergunta:

SERÁ QUE O LEITOR NÃO AJUDOU A MATAR A DONA "REUNIÃO DE ORAÇÃO"?

Não se pode parar o homem de fé! Não se pode dissuadi-lo! Não se pode desviá-lo! Ele seguirá em frente, com ou sem você, ou até por cima de você se for necessário! -- David Berg

"Apaixonar-se por Deus é o maior dos romances; procurá-lo, a maior aventura; encontrá-lo a maior de todas as realizações"
(Desconheço o Autor)

sexta-feira, 10 de junho de 2016

RARA ESTÓRIA DE UM PASTOR


“A Bíblia que está caindo aos pedaços geralmente pertence a alguém que não está.” 
Charles H. Spurgeon

RARA ESTÓRIA
DE UM PASTOR

Cardoso era um jovem diferente. Converteu-se a Cristo lendo a Bíblia. E, de tanto lê-la, foi adquirindo bons hábitos e deixando a velha vida. Converteu-se do jeito bíblico: arrependeu-se dos pecados, creu em Jesus como Salvador e seguiu-O vida afora. Foi batizado e passou a pregar o evangelho.
Não tardou para que a igreja e o seu pastor identificassem nele um chamado especial para o ministério pastoral. Após terminar o ensino obrigatório, foi encaminhado ao seminário teológico. Trabalhava durante o dia e estudava à noite. Deslumbrou-se com a biblioteca da faculdade; animou-se com os figurões teológicos que ensinavam as matérias. Mas, pouco a pouco, descobriu-se como uma gota de óleo no meio d'água.
Seus colegas não criam como ele. Eram, em sua maioria, crentes sem compromisso. Bebiam e embriagavam-se. Alguns fumavam e usavam maconha. Namoravam com fornicação. Os professores, por sua vez, apostavam no amor de Deus acima dos preconceitos humanos. Pecado deixou de ser uma agressão a Deus e à Sua Lei e tornou-se livre escolha, multiforme expressão de vida cristã e razão para nos aceitarmos mutuamente. Cardoso ouvia de seus mestres, doutores em várias áreas, defenderem uma vida cristã livre de preconceitos. Assustou-se. Tomou sua bíblia, já surrada de tanto usada, e abraçou-se a ela, dizendo: "Nem que o maior doutor diga o contrário eu não deixarei a Palavra de Deus. Não preciso de teorias; já tenho a verdade!" E seguiu seu curso, sempre considerado um quadrado, um sectário, mas brilhante na vida e nos conceitos.
Foi ordenado ao ministério pastoral. Assumiu uma igreja. E como festejou a oportunidade de servir ao Senhor no ministério! Passou a visitar, a pregar, a ensinar, a aconselhar, a evangelizar. Aos poucos a igreja foi adaptando-se a ele. Costumava ler a sua bíblia longamente e nos aconselhamentos não tardava em evocar os exemplos bíblicos para o conforto dos fiéis. A igreja o denominava "pastor bíblico", "como se fosse possível pastorear de outro jeito", pensava ele.
Surgiram os problemas na igreja. Casais não casados fornicavam. Casais casados adulteravam. Crentes manifestavam pecados e escravidões terríveis: cigarro, pornografia, maledicência, fofoca, amarguras de décadas etc. Cardoso não titubeava: usava o seu púlpito para proclamar o "assim diz o Senhor". Muitos membros o respeitavam por isso; outros, conquanto compreendessem a sua postura, não admitiam que fosse alguém tão "viciado" em Bíblia, uma vez que as igrejas próximas agiam diferentemente dele: algumas igrejas aceitavam a fornicação como "experiências para ver se havia compatibilidade"; aceitavam o adultério como "forma de provar que o amor maior estava em casa"; entendiam a pornografia como "estímulo para novas experiências conjugais"; consideravam o uso de cigarro e bebida como "livre arbítrio e possibilidade de mostrar que o domínio próprio não os deixaria ir aos extremos". Cardoso não só rejeitava a todas essas teorias, como pregava com poder e autoridade espirituais a mensagem bíblica, proclamando que "os que semeiam na carne, da carne colherão a corrupção" e que "os que estão na carne não podem agradar a Deus".
Cardoso passou a colecionar inimigos do clero. Não do clero católico, mas do clero de sua denominiação, os ministros, pastores e membros de escritórios denominacionais. Para ele a Bíblia deveria nortear os passos das igrejas, da conduta dos crentes, do ensino dos pais aos filhos, e também dos negócios eclesiásticos, da administração financeira e da observância da lei. Infelizmente Cardoso, já com seus 20 anos de ministério, contemplava tristemente um mundo de ministros que não seguiam a sua amada Bíblia. A denominação recolhia ofertas para missões e as usava para prover viagens nababescas aos administradores, privando os missionários dos recursos. As igrejas cresciam fortemente, fazendo vistas grossas ao pecado, transformando-se em inclusivas, não dos convertidos a Cristo, mas dos sem Cristo e cheios do pecado; o dinheiro entrava na mesma proporção em que Cristo saía. Muitos encaravam as igrejas como negócio, fonte de renda e curral eleitoral; não foi sem motivo que vários colegas de Cardoso se transformaram em políticos conhecidos. Infelizmente a conivência tornou-se conveniente e a Bíblia tornou-se pretexto.
Cardoso chorava e sofria. Era acusado de dentro da igreja como radical e pelos colegas de puritano e fundamentalista. Contudo, quanto mais o acusavam, mais lia a sua Bíblia e mais forças recebia da parte do Senhor para manter-se firme e constante, não olhando nem para a direita e nem para a esquerda. A teologia para ele era ferramenta, adequada em alguns casos e dispensável em outros; a Bíblia não. Pregava com a mesma simplicidade e a mesma fé. Ao completar 35 anos de ministério foi homenageado pela igreja como "um pastor que ama a sua Bíblia".
A idade chegava. A saúde debilitava-se. Cardoso já contava com 50 anos de ministério. Nunca se tornou célebre na denominação. Jamais foi cotado para alguma coisa expressiva. Era um pastor de igreja local, modesto, humilde, simples. Mas conduziu a igreja do Senhor aos caminhos da Bíblia Sagrada e cuidou de seus filhos e netos enquanto pôde. Batizou centenas, apresentou os filhos deles; celebrou os quinze anos das meninas e casou outras centenas de jovens. Apresentou seus filhos também. Estava a batizar a terceira geração e acompanhava os seus velhos membros até a hora derradeira. Conhecia a cada um deles e jamais desviara-se nem para a direita e nem para a esquerda. Num mundo evangélico de tantas mudanças e com tantas banalidades, Cardoso manteve a igreja que pastoreou como um oásis no meio do deserto, num púlpito de mensagem fresca como a água da vida e supriu a cada dia o pão da vida da pregação do evangelho. Era uma igreja á moda antiga.
Sem poder caminhar com destreza e sentindo os 87 anos a pesar, Cardoso enxergava muito mal. Mas usou da tecnologia para ouvir a bíblia gravada. Era a sua audição preferida. Os seus netos juntavam-se aos seus pés, junto com os amiguinhos, para ouvi-lo contar as histórias que permearam a sua própria biografia: ele contava as histórias bíblicas. Enquanto podia falar, falou. Enquanto podia ouvir, ouviu. Enquanto podia comunicar-se, testemunhou.
Dois meses antes de partir, sua fala parou. Então escrevia. E dizia nas frases: "eu amo a Palavra de Deus"; "não nos afastemos das Escrituras Sagradas"; "Eu sei em quem tenho crido"; "descansarei no Senhor, mas ressuscitarei"; "recebe-me, Senhor, em Teu Reino!".
Naquela manhã fria de junho Cardoso não despertou. Dormira no Senhor. Sua família, grata pela vida monumental desse herói da fé, fez um culto no quarto ainda quente, agradecendo a Deus por vida tão dedicada à mensagem do Senhor e à fidelidade bíblica. O culto da saudade, na igreja, trouxe três milhares de pessoas. Não desfilaram os hipócritas de sempre pelo púlpito fúnebre; Cardoso deixou escrito que não queria nada disso. O culto era para Deus e só para Ele. Ao invés disso, leram textos que falavam do amor de Deus, da morte e da ressurreição, e cantaram hinos que sintetizavam a fé de Cardoso: "HEI DE VER MEU REDENTOR"; "CIDADE SANTA"; "JÁ REFULGE A GLÓRIA ETERNA"; "DA LINDA PÁTRIA"; "OH, QUANDO O MOMENTO CHEGAR".
Ao pé da sepultura todos choraram. Sentiam saudade do velho pastor que fizera da Bíblia a sua espada de dois gumes. Sentiriam falta dos sermões poderosos e sem temor, denunciadores do pecado e apontadores do perdão. Sentiriam falta da intransigência cristã de quem vivia o que pregava. Sentiam-se órfãos, absolutamente solitários num universo tão desprovido de praticadores da Palavra de Deus. "quem continuará o seu ministério?"
Ao pé da sepultura outro Cardoso, o Júnior, neto caçula do Pastor Cardoso, disse: "Senhor, eu seguirei a senda do vovô. Dá-me a Tua bênção". E naquele instante outro Cardoso recebia a "capa de Elias".

Wagner Antonio de Araújo, em comemoração ao
DIA DO PASTOR 2016

A todos os CARDOSO que conheci, alguns vivos e outros no Senhor.
Em especial à memória de
JOSUÉ NUNES DE LIMA, exemplo que levo em meu coração, para sempre.
10/06/2016